quarta-feira, 9 de março de 2011

Os danos dos agrotóxicos ao agricultor - Por Dr. José Fábio Lana

Recentemente, li uma matéria que me chamou bastante a atenção. Ela se referia aos danos que os agrotóxicos podem causar em quem os manuseia, no caso, o agricultor. Muitas vezes, a gente só associa os males destas substâncias químicas a quem ingere os alimentos que foram produzidos com o uso destes componentes, porém, o trabalhador rural é o alvo principal destes venenos.

Para entender melhor todo o processo, resgatei um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais, que detalha bem sobre os perigos dos agrotóxicos ao trabalhador. Um dado que me surpreendeu foi o volume destas substâncias utilizado anualmente no Brasil, cerca de 250 mil toneladas. E o mais intrigante: uma pesquisa do Fundacentro, órgão do Ministério do Trabalho, revelou que cerca de 57% dos agricultores (de 3 mil entrevistados como amostragem) não recebem informações técnicas sobre o manuseio destas substâncias químicas.

Muitos estudos já tem constatado que os agrotóxicos são um dos mais importantes fatores de risco para a saúde humana. E a ameaça não está somente no produto em si. Mais perigosas ainda são a interações químicas que ele pode sofrer, aumentando ainda mais a sua toxidade. Por exemplo, quanto maior a temperatura atmosférica a que a substância está exposta, maior a sua volatividade e, consequentemente, maior a absorção pelo organismo humano. Além disso, foi comprovado também que o esforço físico aumenta a ventilação dos pulmões, assim, a inalação dos gases oriundos dos agrotóxicos é ainda maior. E o que preocupa é que todas estas situações estão presentes na rotina do agricultor.

Existem duas circunstâncias de contaminação e manifestação dos sintomas. A primeira seria a aguda, quando a pessoa fica exposta por pouco tempo, mas a uma quantidade muito grande de agrotóxicos. Neste caso, costuma ocorrer quadros de náuseas, vômitos, cefaléias, tonturas, desorientações, irritação da pele e mucosas, dificuldades respiratórias, e, até mesmo, em um quadro mais grave, hemorragias, convulsões, coma e morte. Já no caso crônico, quando a exposição é por um longo tempo, mas em quantidades menores, o diagnóstico é mais difícil, porém costumam ser identificadas as alterações imunológicas, genéticas, malformações congênitas, o câncer, problemas cardiorrespiratórios e cardiovasculares, alergias, alterações comportamentais, dentre outras consequências.

O importante é deixar claro que muitos dos casos poderiam ser evitados se houvesse um cuidado maior no manuseio e, principalmente, um controle do uso destas pragas. A maioria dos agricultores, além de não receber informações técnicas, quase não tem acesso aos sistemas de saúde para um acompanhamento médico e acabam sendo, posteriormente, vítimas destes males. Para quem consome os alimentos produzidos com o uso de agrotóxicos, o alerta também é o mesmo. Quanto mais se evitar, melhor. Hoje, já temos uma conscientização maior e uma produção crescente de produtos orgânicos, que devem ser consumidos preferencialmente.

Muitos casos graves poderiam ser evitados se trabalhássemos com a prevenção. Portanto, faça a sua parte. Informe amigos e parentes, divulgue estes dados para que possamos fazer uma rede em prol da saúde do trabalhador rural. Assim poderemos evitar que quase 5 mil agricultores sejam intoxicados todos os anos com os pesticidas. (Dados do Ministério da Saúde).

Fonte: Agrotóxico e trabalho: uma combinação perigosa para a saúde do trabalhador – Jandira Maciel Silva; Eliane Nonato Silva; Horácio Pereira Faria; Tarcísio Márcio Magalhães Pinheiro.

Fonte: http://www.jmonline.com.br/novo/?noticias,7,SA%DADE,42403

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Charge do Toninho

Charge do Toninho

"AQUILO QUE NÃO PODES CONSERVAR NÃO TE PERTENCE"

Excelente frase divulgada na coluna FALANDO SÉRIO de Wellington Ramos do JM. Espero que muitos ruralistas e políticos a tenham lido.