Hoje existe um número infindável de livros indicando o que não podemos deixar de fazer em nossas vidas: cem filmes para ver, cem livros para ler, cem cd’s para ouvir. Pois eu acredito que devemos pensar um pouco além, e, listar as pessoas e exemplos que devemos conhecer.
Aparecida Conceição Ferreira, a Dona Aparecida do Pênfigo, é sem dúvida, ao lado de Chico Xavier, um dos grandes legados que Deus deixou para a humanidade. Dois uberabenses de alma que edificaram exemplos reconhecidos pelo mundo afora.
Deus parece estar reunindo no céu um exército dos puros de coração. Se assim o for, Dona Aparecida é mais um grande reforço para essa infantaria do amor. Aos 95 anos de idade ela transcende a matéria e deixa para Uberaba e para todas as almas generosas, a missão de continuar sua obra.
O Pênfigo é caracterizado pelo aparecimento de bolhas na pele e nas membranas mucosas, como a boca, a vagina e o pênis. A gravidade e a aparência dessas feridas lhe atribuíram outro nome: Fogo Selvagem. Numa época em que boa parte da sociedade considerava esses doentes repugnantes e intratáveis, Dona Aparecida deixou seu amor por eles crescer e lhe dar a força necessária para poder ajudá-los.
Uma guerreira, que munida de humildade percorreu São Paulo inúmeras vezes em busca de ajuda. E Deus a iluminou. Encontrando almas que compartilhavam de seu ideal de carinho e amparo aos necessitados, conseguiu os recursos necessários para edificar o Lar da Caridade e o Hospital do Pênfigo.
Se a sociedade tinha medo, Dona Aparecida atropelava o preconceito e dava exemplo. Com passos firmes e cheios de amor ela percorria diariamente todos os leitos, amparava os doentes e seus familiares. Ofertava-lhes afeto e carinho. Cuidava e lavava as feridas de pessoas desconhecidas.
Dona Aparecida foi criada por um tio e sempre trabalhou para ajudar na manutenção da família: vendia doces, frutas e verduras. Engana-se, contudo, aquele que acredita ser esse um passado pobre. Na realidade, foi o início da edificação de uma fortaleza de amor. Dona Aparecida casou-se com Clarimundo em 1934 e arregaçou as mangas, começou a recolher crianças de rua para criar.
Um acidente com o marido a fez trabalhar ainda mais se desdobrando para não faltar alimento em casa. Ela trabalhou como professora rural na cidade vizinha de Nova Ponte e retornando a Uberaba começou a trabalhar como enfermeira técnica na Santa Casa de Misericórdia.
Quando surgiram naquela instituição de saúde os portadores do Pênfigo, sua missão mais bela se iniciava. Rotulados com o preconceito, aqueles que tinham o fogo selvagem foram expulsos da instituição por sua diretoria. Dona Aparecida, então abandonou a Santa Casa e os doentes a acompanharam. Ela os levou para sua própria casa. Os filhos e o marido mandaram que ela escolhesse entre eles e os doentes. A resposta todos a conhecem.
Com muita luta e a força que Deus lhe concedeu para cumprir sua missão, Dona Aparecida ergueu seu exemplo de humanidade. Cuidou daqueles que precisavam de sua ajuda. Venceu o preconceito e jamais foi indiferente às dificuldades que a vida ofertava. Com a sua coragem e o seu amor pelo próximo, ela fez com que todos nós aprendêssemos o significado da palavra solidariedade.
Ela se foi, é verdade. Mas seu exemplo e sua obra ficam. Agora é respeitar seu legado e garantir que ele não se perca ante ao nosso comodismo.
(*) jornalista, advogado e professor universitário
(*) jornalista, advogado e professor universitário