sábado, 27 de março de 2010

Tomates contaminados - Renato Muniz Barretto de Carvalho

Adoro tomates. Os bem vermelhos, os verdes, os grandes, os pequenos, nas saladas, nos molhos, fritos, recheados e até em receitas que ainda não experimentei.
Infelizmente, junto com os pimentões, morangos e batatas, é um dos alimentos mais contaminados por agrotóxicos no Brasil. Esses alimentos, tão saudáveis e necessários, são contaminados por substâncias tóxicas durante o processo de produção e, às vezes, no preparo e manipulação.
Apesar de o Brasil possuir uma legislação que proíbe o uso de alguns produtos tóxicos na agricultura, que regulamenta quantidades, que estabelece carências e outros procedimentos para tornar os alimentos mais seguros para o consumo humano, nem sempre as recomendações são seguidas. O maior prejudicado é o consumidor, que consume produtos contaminados por venenos altamente tóxicos, danosos à saúde humana. Prejudicados também são os trabalhadores que manipulam esses produtos sem a devida proteção. E o meio ambiente.
No ano passado, em abril, a ANVISA, órgão do Ministério da Saúde, divulgou uma pesquisa sobre contaminação de alimentos no Brasil. Muitas amostras analisadas apresentaram problemas. Alguns produtos estavam com índices elevados de contaminação, dentre eles o pimentão, a uva, o morango e a cenoura. Na ocasião, o ministro Temporão chegou a declarar que iria cortar o pimentão de sua dieta.
O ministro tem feito um bom trabalho à frente do Ministério da Saúde, mas ao invés de cortar o pimentão de sua dieta, ele devia, isto sim, fazer gestões e desenvolver políticas públicas para cortar os agrotóxicos definitivamente de nossos alimentos. Os efeitos seriam mais eficazes e os ganhos em termos de qualidade de vida e saúde bem maiores. Como médico ele deve saber disso.
O governo federal até que tem feito sua parte, mas ainda de forma tímida. Tem incentivado a produção e o consumo de produtos orgânicos, mas falta muita coisa. Falta, sobretudo, desvendar melhor as relações políticas e sociais envolvidas na produção de alimentos, as relações predatórias existentes entre a agricultura e as grandes empresas produtoras de venenos e outros insumos. Precisa impedir a fragilização dos pequenos agricultores e proteger o consumidor interno. Falta fiscalizar melhor e denunciar o uso intensivo de venenos na produção de alimentos. Denunciar o vínculo entre os interesses agroindustriais e o desmatamento. Essas questões andam sempre juntas: questões sociais, políticas e ambientais. É bom lembrar que não há uso responsável de agrotóxicos. Responsabilidade é não usar.
O assunto é polêmico, é antigo, e muita tinta, saliva e papel já foram gastos para se tentar resolver o problema. Denúncias graves, apreensões de produtos, alterações nas fórmulas, produtos vencidos e, no entanto, o país continua na lista como um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo. A última denúncia, feita em março de 2010, vem de um grupo de fiscais que percorreu várias plantações de tomate no interior de São Paulo. Foram encontradas inúmeras irregularidades: trabalhadores sem equipamentos de proteção, péssimas condições de moradia, jornada excessiva de trabalho, condições precárias de armazenamento e manuseio de agrotóxicos, dentre outros pontos graves. Trabalhadores foram flagrados pulverizando lavouras sem nenhuma proteção, adolescentes trabalhando, o que é proibido nesse tipo de lavoura, agrotóxicos misturados sem nenhum critério, uso de venenos de forma ilegal. Boa parte dessas plantações abastece a grande São Paulo.
Isso confirma a idéia de que a degradação ambiental caminha passo a passo com a degradação do trabalho, da pessoa. Quem não respeita um não costuma respeitar o outro.
E como fica o molho à bolonhesa da macarronada de domingo? Deixaremos de consumir tomate? Como fica a saúde? Nem se pode dizer que tudo vai terminar em pizza, pois vai faltar o molho de tomate.

quinta-feira, 25 de março de 2010

segunda-feira, 22 de março de 2010

ONU: água poluída mata mais que violência no mundo

"A quantidade de água suja significa que mais pessoas morrem hoje por causa da água poluída e contaminada do que por todas as formas de violência, inclusive as guerras", disse o Programa do Meio Ambiente das Nações Unidas (Unep, na sigla em inglês).
Em um relatório intitulado "Água Doente", lançado para o Dia Mundial da Água nesta segunda-feira, o Unep afirmou que dois milhões de toneladas de resíduos, que contaminam cerca de dois bilhões de toneladas de água diariamente, causaram gigantescas "zonas mortas", sufocando recifes de corais e peixes.
O resíduo é composto principalmente de esgoto, poluição industrial e pesticidas agrícolas e resíduos animais.
Segundo o relatório, a falta de água limpa mata 1,8 milhão de crianças com menos de 5 anos de idade anualmente. Grande parte do despejo de resíduos acontece nos países em desenvolvimento, que lançam 90 por cento da água de esgoto sem tratamento.
A diarréia, principalmente causada pela água suja, mata cerca de 2,2 milhões de pessoas ao ano, segundo o relatório, e "mais de metade dos leitos de hospital no mundo é ocupada por pessoas com doenças ligadas à água contaminada."(...)
Leia na íntegra:
Fonte: Reuters

Que o Verde nos perdoe...

Hoje é o Dia Mundial da Água e o início da Semana Nacional da Água. Criadas, respectivamente, há 18 anos pela ONU e há 8 anos no Brasil, são motivos mais de preocupação e alarme do que de comemoração.
No Ano da Biodiversidade, promulgada também pela ONU, o que nosso país e nossa cidade têm feito para sairem desse quadro crítico?
O que vemos são empreendimentos que atentam contra a democracia. De um lado a transposição do Rio São Francisco, que está sendo realizada de forma autoritária, sem ouvir os Comitês de Bacia e por último a Usina de Belo Monte, que segue esse mesmo padrão, sem ouvir as comunidades nativas, a dezena de povos indígenas, professores universitários, ambientalistas.
Aqui em Uberaba segue a cartilha. O Plano Diretor e a Lei Orgânica do município foram alterados para atender interesses econômicos e políticos, ignorando os "abaixo-assinados" da população e a representação do Ministério Público em relação à cana-de-açúcar, citando apenas um exemplo.
Com "uma mão" divulga-se na mídia campanhas educativas, mas "esquece-se" de mostrar o que "a outra mão" está fazendo.
O Brasil é o campeão no consumo de veneno agrícola. Grande notícia para as nossas nascentes, afluentes, riachos, rios, espécies aquáticas e para nós e todos os seres vivos que se alimentam dessas "águas".
O governo municipal planta árvores na cidade mas permite um ecocídio no campo, avalizando e incentivando usinas e monoculturas que agridem nosso cerrado há décadas.
No Brasil e por aqui, a cúpula ruralista quer "flexibilizar" o Código Florestal, diminuindo reservas legais; averbando áreas fora da bacia hidrográfica e outros absurdos, que só diminuirão as reservas naturais e a biodiversidade, em nome do "desenvolvimento".
Enquanto isso no "primeiro mundo" começou a "cair a ficha", investindo na preservação de nascentes, mananciais, deixando de gastar 10 vezes mais com a remediação no tratamento dessas águas, se não fossem preservadas em sua origem.
Por aqui a meta é "avançar e produzir", o que na verdade significa ampliar a destruição, como se o problema do alimento não fosse a distribuição e o preço mínimo ou subsídio que deveríamos dar ao pequeno produtor, ao invés de combatermos os subsídios externos.
Se nem o homem, que já é do campo, não consegue permanecer por lá por falta de uma política agrícola sustentável e justa, que dirá daquele que nem preparo tem para lidar com a terra.
Enquanto isso a pasta de meio ambiente no planalto vai cedendo às tentações do poder.
Aqui na terrinha ao menos houve mudança de gestor. O atual, Carlos Assis, participou do governo Wagner do Nascimento, e como fui um dos participantes do CODEMA na época, me senti um pouco contemplado (já que o Anderson nunca vai querer saber o que nós ambientalistas pensamos). Faço votos que faça um bom governo e que nos ouça, pois o último gestor não tinha muita abertura com os ambientalistas.
Finalizando, nunca é demais chamar a atenção para o papel da mídia. Infelizmente são raríssimos os veículos de comunicação que ouvem o "outro lado" dos ambientalistas e da comunidade em geral. Na sua grande maioria é uma imprensa "marrom" que está subjugada aos mandos e desmandos do poder político e econômico, tanto do executivo quanto do legislativo, e o povo assiste, lê e ouve a tudo com "cara de tacho".
Mas é assim mesmo. O que manda no mundo é o interesse do capital.
Assim, quem tiver mais grana que compre uma "água saudável e potável" (se existir) e que não tiver tome "água do CODAU".
Parafraseando o Hélio Siqueira (artista plástico) só posso então dizer: QUE O VERDE NOS PERDOE!!!

Charge do Toninho

Charge do Toninho

"AQUILO QUE NÃO PODES CONSERVAR NÃO TE PERTENCE"

Excelente frase divulgada na coluna FALANDO SÉRIO de Wellington Ramos do JM. Espero que muitos ruralistas e políticos a tenham lido.