A cultura de dominação sobre a natureza, e seu
modelo predatório, ambiental, social e cultural, sinalizou o começo de seu fim,
com o anúncio do Presidente Donald Trump em relação à saída dos EUA do Acordo
de Paris sobre as mudanças climáticas, justificando que "fui eleito para representar os
cidadãos de Pittsburgh, não Paris".
Em uma
demonstração de completa insensibilidade e irresponsabilidade sobre o mérito e
significado do acordo, Trump foi criticado pelo próprio prefeito de Pittsburgh,
Bill Peduto, que disse irá garantir “as diretrizes do Acordo de Paris para nosso
povo, nossa economia e futuro", assim como tem sido duramente
criticado pelos líderes de todo planeta, além é claro da opinião pública
mundial, isolando Trump e seus defensores, à categoria de uma “espécie em
extinção”, incompatível com o ideal de sustentabilidade para o terceiro milênio.
No
século XVIII o economista britânico Thomas Malthus, alertava para o crescimento
demográfico em “escala geométrica”,
enquanto a produção de alimentos para a subsistência crescia em “escala aritmética”. No entanto, embora as
técnicas de produção inovaram a cultura da terra, ampliando sua produtividade,
por outro lado a distribuição desigual de renda, a exclusão social, a
destruição e aculturação dos povos nativos e a destruição ambiental se
multiplicaram assustadoramente.
Marx e Engels tratariam sobre os modos de produção e a “força
de trabalho que opera os meios de produção –, determinando os aspectos
políticos, ideológicos e culturais dessa sociedade”,
onde o homem muda não só a natureza, mas a sim mesmo; o historiador Eric Hobsbawn citaria sobre o ciclo
capitalista “antinatural” que se
impunha; e o sociólogo polonês Zigmunt Bauman, destacaria o termo “precariado”, impondo a precarização
sobre a força produtiva do “proletariado”,
ou classe trabalhadora.
Nosso antropólogo Antonio Cândido estudou a implantação do “Plano Nacional de Desenvolvimento”
iniciado nos governos militares, e continuado pelos governos civis, com a
destruição da “cultura do caipira e
rústica”, pela cultura dos “latifúndios
agroexportadores”, reduzindo-os à “boias-frias”,
com “excedentes populacionais não
incorporados à industrialização”, marginalizados diante da promessa de “crescimento
econômico” sem levar em conta o desenvolvimento social, ambiental, cultural,
além dos povos nativos, em risco de extinção.
Essa tese de crescimento econômico predatório, enfim começa a
cair por terra, simbolizado pela inconsequente atitude de Trump, presente porém,
no dia a dia do planeta, seja nos países industrializados como a China, maior
poluidor mundial – mas que reafirmou os compromissos do acordo de Paris –, seja
nos países em desenvolvimento como o Brasil, que destrói sua biodiversidade e
seus recursos naturais de forma criminosa e inconsequente.
É certo, no entanto, a antítese de que uma nova era de
sustentabilidade está posta, onde investir em energias limpas e de menor
impacto ao meio ambiente, tragam também desenvolvimento social, econômico e
ambiental; onde a cultura da “dominação
sobre a natureza” e da “dominação do
homem sobre o homem”, sejam substituídas pela cultura da “integração à natureza”, já que somos
parte dela e filhos da Mãe Terra, e da “solidariedade
entre os povos”.
O ser humano ameaça sua própria existência no planeta, muito
mais pela lógica utilitarista e egoísta na defesa de sua própria sobrevivência,
e se questiona e modifica seu modo de produção em relação aos impactos
ambientais, não é pelo respeito, integração e valorização da própria natureza,
dos seres vivos, biodiversidade, recursos naturais e culturas nativas,
infelizmente.
Há milhões de “Trump” ainda pelo planeta, países, estados, municípios,
utilizando o poder público e privado para manter um modelo falido de crescimento
econômico predatório, insustentável, autoritário e manipulador das mídias e da
opinião pública.
Que neste dia mundial do meio ambiente possamos refletir
sobre esse novo paradigma do terceiro milênio que se inicia; o começo do fim de
uma era de exploração, para o início de uma era de integração e solidariedade,
refletindo sobre as mudanças que queremos, podemos e devemos fazer, em relação
a nós mesmos e ao mundo do qual somos parte; em nossa ética pessoal, social e
ambiental.
Carlos Perez
Ambientalista e Coordenador do Portal Voz do Cerrado