sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Humanidade x Pilatos - Coluna Gê Alves - JM

Humanidade. Professora doutoranda em universidade federal, Roberta Afonso Vinhal Wagner é também voluntária em grupo espírita e aciona a coluna para expor fato preocupante. Diz que na quarta, noite de chuva, a Ronda Social, com reforço da Guarda Municipal, retirou todos os objetos de andarilhos nas imediações da escola Miguel Laterza, inclusive suas marmitas com alimentos, roupas e carrinho para recolhimento de recicláveis. A medida arbitrária teria ocorrido diante da negativa das pessoas de serem conduzidas ao Albergue Municipal. “Será que vamos chegar a assistir ao que vimos no Nordeste?”. Garantindo que o grupo não estava alcoolizado, Roberta conta que a entidade em que atua os acolheu oferecendo comida.
Pilatos. Conforme Roberta, o Albergue Municipal não é uma solução. “Lá oferecem banho frio, cama e prato de comida por dois dias. Depois ou voltam para a rua sem resolver o problema ou recebem passagem para raio de cem quilômetros”, afirma. A professora diz que tenta uma reunião com a Secretaria de Assistência Social. Sua sugestão é de que a situação seja realmente encarada e não empurrada ou alvo de “covardia”. Sugere convênio com entidades religiosas (de todas as religiões) e instituições para tratamento dos casos de drogas e encaminhamento à formação profissional, a fim de promover a verdadeira reintegração social. “São seres humanos e quando um ser humano vai para a rua perde o brilho dos olhos e, se for tratado como coisa, pode perder a chance de reinserção e se tornar violento. Nada é mais perigoso que um ser humano que não tem nada a perder”, diz ela, afirmando que muitos são de Uberaba e outros transportados de cidades vizinhas: ou seja, é um vaivém onde, num jogo de empurra, as cidades vão revezando seus andarilhos sem uma política efetiva para combater a situação.
Fonte:
http://www.jmonline.com.br/novo/?colunas,75,UMAS+%26+OUTRAS
Não fosse o trabalho voluntário como o de Roberta Vinhal e a sensibilidade da jornalista Gê Alves, esse infeliz episódio seria mais um dos milhares que ficam escondidos de nossos olhos e distantes de nosso coração.
Nossa sociedade, infelizmente, só enxerga o que lhe incomoda e lhe interessa.
Não fossem esses anônimos, que se organizam em cooperativas ou não, e que recolhem nossos lixos recicláveis, nosso sentimento de culpa, tanto enquanto cidadãos como enquanto gestores públicos, seria ainda muito maior. A ironia é que, neste caso, justamente sobre estes que ajudam a minimizar os impactos ambientais de nossa cidade, também recai a deficiência das políticas públicas.
A questão é muito maior do que questionar a Ronda Social, o albergue público, ou outras medidas paleativas. A questão de fundo é o imenso abismo entre sociedade e cidadania. A hipocrisia é como um crime por culpa ou dolo. Pratica-se sem intenção ou com intenção, mas pratica-se, diariamente, há séculos.
Enquanto um único cidadão não tiver seus direitos básicos garantidos nenhuma sociedade pode dizer que é justa e nenhum país pode dizer que é uma nação.
No ano em que o legislativo federal aumenta para si mesmo seus salários em mais de 60% e a primeira presidenta tem seu salário aumentado em mais de 100%, lemos a dura realidade das ruas com seus déficits sociais incalculáveis, que porcentagem alguma consegue traduzir. 

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Charge do Toninho

Charge do Toninho

"AQUILO QUE NÃO PODES CONSERVAR NÃO TE PERTENCE"

Excelente frase divulgada na coluna FALANDO SÉRIO de Wellington Ramos do JM. Espero que muitos ruralistas e políticos a tenham lido.