Meu querido Murilo,
O Brasil está agonizando, imerso no vendaval de lama que o açoita por todos os lados. O cansaço nos abate, a cada dia, vendo desfilar, ante nossos olhos, o festival de improbidade, de leviandade, de corrupção, de falta de consciência, travestida de ingenuidade, inundando as manchetes da mídia. Os atores: políticos de todas as esferas.
E ficam-me latejando na cabeça palavras que você repetia sempre: “A política deve ser um sacerdócio cívico.” A palavra sacerdócio supõe despojamento, entrega ao outro nas suas necessidades, desprendimento dos próprios objetivos em favor da comunidade, da sociedade. “A política deve visar ao bem comum, e não ao bem individual ou de grupos.” Ou seja, o bem de toda a coletividade precisa estar acima de qualquer bem individual ou de grupos, para que possa beneficiar a todos e, não, apenas a uma parte, ou a um indivíduo.
Nestes momentos desanimadores, meu amor, sinto muita falta de ouvir suas palavras, eivadas de conceitos éticos, sobre os rumos que uma política autêntica deveria tomar, para que os cidadãos se sentissem motivados e confiantes em seus governantes.
Leio na Veja de 20/05: “...agora se sabe que: há deputado acusado de estupro, há deputado dono de castelo, há deputado que embolsa dinheiro da verba indenizatória, há (muitos) deputados que viajam pelo mundo com dinheiro público. Há também deputado que se lixa para a opinião pública.” Enquanto isso as famílias brasileiras precisam de saúde, de educação, de moradia, de segurança, de lazer, de respeito às vidas que as compõem.
Sinto, enquanto penso e falo em tudo isso, meu querido Murilo, ter a sensação de ouvi-lo falar sobre valores morais, nas nossas reuniões familiares, todos à sua volta, embebendo-se de sua sabedoria, quase sempre entremeada de citações latinas.
Sabe, meu amor, o desencanto toma conta de todos nós. Como na letra de Chico Buarque, de que tanto você gostava, “E aí me dá uma tristeza no meu peito / Feito um despeito de eu não ter como lutar”, não sabemos mais como agir ou reagir. A decepção e o cansaço são tantos que parece termos perdido até a capacidade de indignação contra tanto descaso com as necessidades prementes do povo. Mas como eu gostaria, meu querido Murilo, de tê-lo aqui agora, para nos falar da cor verde da esperança que não pode desaparecer de nossos corações, apesar de tudo. Você diria, com certeza, que, mais dia menos dia, as forças do bem atropelarão, com euforia, as forças do mal. E quando isso acontecer, a bandeira da ética tremulará nos corações de todos nós, brasileiros.
(*) educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro
thuebmenezes@hotmail.com
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