sábado, 30 de agosto de 2008

O PRIMEIRO LIVRO - Renato Muniz Barretto de Carvalho

O primeiro livro a gente nunca esquece. Eu não sou o primeiro a escrever e a pensar nesta frase, mas a curiosidade é grande: qual foi o primeiro livro que você leu? Quando? Gostou? Guardou? Deve ter sido um livro ilustrado, colorido, uma aventura, um romance, uma história interessante, não foi? Os sabores da infância são mais doces, mais gostosos, as lembranças são mais agradáveis. Não são? Para a maioria, as primeiras leituras, o primeiro livro lido, costuma acontecer durante o processo de alfabetização, para alguns bem mais tarde. Para muitos tem um significado especial, para outros passa desapercebido.
Foi presente de alguém ou foi tarefa da escola? Se foi tarefa da escola, "para casa", você já deve ter esquecido. Perdeu-se com o passar do tempo. Não foi obrigação, foi presente da sua mãe? Geralmente é assim, e ela leu pra você, entregou nas suas mãos, e ajudou a passar as páginas, não foi? E foram muitas leituras, repetidas vezes. E depois de um certo tempo você até já tinha decorado a história, corrigia sua mãe quando ela pulava uma frase. Leu tanto que acabou rasgando algumas páginas, a capa se soltou. Até que o velho livro ficou esquecido num canto. E então, guardou ou jogou fora?
Depois vieram outros livros. Vieram os clássicos, aqueles que todo mundo comenta, que todo mundo diz que leu e dizem que devem ser lidos. Leu Os três mosqueteiros? O gato de botas? Aladim e a lâmpada maravilhosa? Chapeuzinho Vermelho? Leu Tarzan? Leu Reinações de Narizinho? Dom Quixote?
Ah! A idade de ouro, ler sem compromisso, de pernas para o ar, de cabeça para baixo, de dia, de noite, de tarde. Varar as madrugadas. Leu no banheiro? Brigaram com você porque não se sentou à mesa do jantar na hora certa? É claro, mas terminar o capítulo era mais importante. Deixou o telefone tocar até desligarem? Não deu água para o cachorro? Que maldade! Mas descobrir o mistério do ídolo roubado era mais urgente.
Dormiu às quatro da manhã? Desligou o despertador sem perceber e perdeu a aula de educação física? Valeu a pena! Eu sei, eu te compreendo bem.
Leu livros proibidos? Leu escondido? Conheceu tanta coisa que não imaginava que existisse, não foi? Descobriu países distantes, pessoas diferentes, animais estranhos, apaixonou-se? Sem dúvida! Acontece, fique tranqüilo, eu também. Sentia vontade de abraçá-la, de fugir com ela, de viverem juntos uma incrível aventura? Que saudades dos primeiros livros!
Leu mais durante as aulas ou nas férias? Nas férias, é claro! Porque escolheu o que quis ler. Leu sem hora para começar ou terminar. Leu por prazer. E como foi bom ler nos dias chuvosos de verão! A chuva escorrendo pelo telhado e a leitura fluindo, encharcando a cabeça de idéias, inundando o coração de esperança e boas expectativas.
Conversou sobre suas leituras com alguém? Indicou, presenteou, entusiasmou-se? Copiou trechos, decorou frases, imitou personagens, foi co-autor, crítico literário, agente cinematográfico, herói, caçador, aventureiro, amante... Quantas fantasias! Quantos lugares novos! Viajou muito? Recorda-se de tudo o que leu? Já leu tudo o que queria? Não, nem de longe. Tem muito caminho ainda, muito chão para andar, muitas linhas a percorrer. Qual foi mesmo o primeiro livro que você leu?

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Charge do Toninho

Charge do Toninho

"AQUILO QUE NÃO PODES CONSERVAR NÃO TE PERTENCE"

Excelente frase divulgada na coluna FALANDO SÉRIO de Wellington Ramos do JM. Espero que muitos ruralistas e políticos a tenham lido.